A perspectiva de que a empresa estaria avaliando um “Chapter 11” – recuperação judicial nos EUA – pegou o mercado de surpresa nesta quinta-feira (29), levando os papéis da companhia a cair mais de 20%
O CEO da Azul, John Rodgerson, negou, de forma veemente, que a empresa estaria cogitando uma recuperação judicial nos Estados Unidos: “O Chapter 11 não é nosso plano”. Em conversa com o Valor, o executivo disse que o grupo avança com uma renegociação de dívida com os arrendadores, para já transferir a eles uma parcela fixa da Azul, ao invés do título conversível negociado no ano passado.
A visão do executivo é de que, entre 30 e 60 dias, o grupo já deve encontrar um desfecho para o tema, o que representaria um alívio no endividamento da empresa de US$ 570 milhões, dívida que seria transformada em “equity” (participação acionária) de forma imediata.
“Nunca foi nosso plano”
A perspectiva de que a empresa estaria avaliando um “Chapter 11” pegou o mercado de surpresa nesta quinta-feira (29), levando os papéis a cair mais de 20% no meio do pregão. “O Chapter 11 não é nosso plano. Nunca foi nosso plano. O que eu sempre faço com meus parceiros é o melhor acordo. A gente sempre negocia de maneira amigável. Quem ganha com um ‘Chapter 11’, com esse processo, não são os parceiros. São os advogados, os ‘advisers’[consultores]”, disse o executivo, ao Valor.
Rodgerson deu detalhes sobre a negociação em curso com os arrendadores. Pela nova estrutura, a empresa iria converter a dívida conversível de R$ 570 milhões com os arrendadores de uma vez e por um percentual fixo e já acordado.
A diferença entre o acordo proposto e o anterior é que, na negociação do ano passado, essa dívida seria convertida em “equity” de forma parcelada a partir do terceiro trimestre deste ano em um intervalo de três anos por um preço de ação a R$ 36 — antes de estourarem as conversas sobre “Chapter 11”, a ação estava em R$ 7.
“Começamos a negociar com os arrendadores uma parcela fixa da empresa. Ao invés de eles receberem periodicamente ao longo dos próximos anos”, disse.
A empresa já havia sinalizado em conferência que a conversão a R$ 36 representaria uma diluição muito elevada e que, por isto, a Azul passou a renegociar os termos. A conversão da dívida com os arrendadores em “equity” por um preço de R$ 36 por ação representaria uma diluição de 18%. Os termos não estão fechados, mas o executivo sinalizou que as negociações devem ficar um pouco acima desse percentual.
“Vai ser um pouco maior, mais nada perto da diluição que aconteceria diante do preço da ação hoje [se quitado a R$ 36]”, disse o executivo.
David Neeleman continuará no controle
Apesar da diluição, o executivo disse que David Neeleman continuará com o controle da empresa. Hoje, ele controla o negócio com uma estrutura de ações superperferenciais, mesmo tendo menos de 5% do capital da Azul. A negociação hoje é tocada com cinco arrendadores que detêm mais de 90% da dívida da empresa com arrendamento. São eles: AerCap, Avolon, Azorra, NAC e Falko.
As conversas, segundo o executivo, estão caminhando de forma positiva e a estimativa é que um acordo final saia entre 30 e 60 dias. O executivo destacou que o negócio seria fundamental para a empresa, ao reduzir drasticamente a alavancagem e converter a dívida de US$ 570 milhões em equity.
“Eles querem uma Azul forte”
“O que o mercado não está entendendo é que o ‘lessor’ [locador] tem relacionamento de longa data conosco. Um dos arrendadores que estamos negociando está entregando um ‘widebody’ [avião de corredor duplo] para mim hoje. Eles querem uma Azul forte”, disse.
O executivo destacou, ainda, que a aprovação, na quarta-feira (28), na Câmara dos Deputados, do uso dos recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC) como garantidor de empréstimos chegou em boa hora para a empresa. “Isso é uma coisa que estamos discutindo há anos. É mais acesso a capital e mais barato”, disse.
Rodgerson destacou que as conversas com os arrendadores acontecem paralelas às negociações com o grupo Abra para um negócio envolvendo a Gol. “Temos de respeitar o processo deles”, disse.
Crise no Rio Grande do Sul
O cenário do setor é complexo e isso acabou levando as ações da empresa a não performar da forma que o grupo esperava. Para além dos impactos do câmbio, as aéreas foram bastante prejudicadas pela crise no Rio Grande do Sul.
Juntas, as três principais aéreas do país perderam quase meio bilhão de reais no segundo trimestre por causa das chuvas. O território gaúcho representa 10% da demanda doméstica.
Fonte: Valor Econômico